A Fraternidade São Francisco de Assis - FRASOL, teve recentemente duas produções científicas relacionadas a Inclusão Digital e a Biblioteca Maria Antonieta Franco de Siqueira.
Após 25 anos de sua fundação em 1989, a Fraternidade Solidária São Francisco de Assis, teve recentemente duas monografias relacionadas a oficina de Inclusão Digital escrita pelo educador social Deybson Eduardo Cezario, e sobre a Biblioteca escrita pela Bibliotecária e educadora social Mariane Braz Brandão. O objetivo de cada trabalho é levar o conhecimento sobre a definição de Inclusão Digital e Biblioteca, abrindo visões para a sociedade através de reflexões. Os trabalhos também abordam a importância da Inclusão Digital e da Biblioteca na FRASOL e na Sociedade da Informação. Vejam alguns trechos e o resumo de cada trabalho.
Deybson Eduardo Cezario dos Santos possui bacharelado em Biblioteconomia e Ciências da Informação e da Documentação pela Universidade de São Paulo. Atualmente é educador social de Inclusão Digital na Fraternidade Solidária São Francisco de Assis FRASOL-RP. Deybson Eduardo realiza trabalhos socioeducativos em uma linha das tecnologias digitais com a formação social através de valores sociais, dedicando à diversidade cultural, étnica, religiosa e sexual.
SANTOS, Deybson Eduardo Cezario dos. Olhares sobre o Profissional da Informação e a
Inclusão Digital na Sociedade da Informação: estudo de caso da Oficina de Inclusão
Digital da Fraternidade Solidária São Francisco de Assis. 2015. 61f. Trabalho de Conclusão
de Curso (Bacharelado) - Curso de Biblioteconomia, Ciências da Informação e da
Documentação, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, 2015.
As Tecnologias de Informação e Comunicação têm gerado transformações em diversos
âmbitos sociais e possuem o potencial de melhorar a vida dos indivíduos a partir da inclusão
digital. O presente trabalho apresentou um estudo sobre a inclusão digital na Sociedade da
Informação, bem como as contribuições do profissional da informação nesse processo,
buscando elucidar como este pode contribuir no enfrentamento de desafios, tais como o
analfabetismo digital e a má formação para o uso das tecnologias. O trabalho foi realizado por
meio de pesquisa bibliográfica e estudo de caso da Oficina de Inclusão Digital da Fraternidade
Solidária São Francisco de Assis, localizada na cidade de Ribeirão Preto - SP. O corpus do
estudo constitui-se de dez planilhas desenvolvidas na oficina, relativas aos anos de 2014 e
2015, onde são registradas atividades socioeducativas para crianças e adolescentes, que tratam
de temas como: Tecnologia e Sociedade, Letramento digital, Ciberbullying, valores humanos
e cidadania. Por meio da revisão bibliográfica e do estudo de caso, foi possível concluir que a
inclusão digital constitui um trabalho social de formação crítica e o profissional da
informação pode contribuir para essa formação. Dessa forma, o estudo apresentou diferente
abordagem do trabalho do profissional da informação, atuando com educador social de
inclusão digital em Organizações não Governamentais (ONGs). Ressaltou-se como este
profissional pode ser agente de transformações sociais no contexto que atua, lançando olhares
reflexivos sobre o que realmente é e como pode ser trabalhada a Inclusão Digital no Brasil. É
relevante a realização de mais estudos de programas de inclusão digital que contam com a
participação de profissionais da informação, trazendo novos olhares e enriquecendo o campo
de estudos da área de Biblioteconomia e Ciência da Informação.
Palavras-chave: Sociedade da Informação. Inclusão Digital. Profissional da Informação.
Educador social. FRASOL.
3 INCLUSÃO DIGITAL: ASPECTOS HISTÓRICOS E SOCIAIS NA
SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO
No final do século XX, a internet passa a predominar sobre as redes de comunicação e
novos mecanismos de expansão e produção de informações surgem modificando o meio da
comunicação e transformando o espaço físico em um espaço virtualizado (LÉVY, 1996).
A virtualização pode ser definida como o movimento inverso da atualização.
Consiste em uma passagem do atual ao virtual, em uma „elevação à potência‟ da
entidade considerada. A virtualização não é uma desrealização (a transformação
de uma realidade num conjunto de possíveis), mas uma mutação de identidade,
um deslocamento do centro de gravidade ontológico do objeto considerado: em
vez de se definir principalmente por sua atualidade de partida como resposta a
uma questão particular. (LÉVY, 1996, p.17).
Lévy (1996) relaciona a virtualização, consequente das tecnologias digitais, com a
desterritorialização, a modificação do tempo, do espaço, do indivíduo e da informação.
Quando se conecta ao mundo virtual, eles se tornam vulneráveis e não presentes no tempo
real, segundo o autor.
A virtualização, para Lévy (1996) é como uma mutação presente no cotidiano dos
indivíduos, sendo capaz de transportá-los a outros ambientes e espaços, voltar no passado e
até mesmo viajar para o futuro, no ato de se comunicar, enxergar e interagir com as pessoas
por equipamentos eletrônicos. É o abstrato e o real juntos, o físico e o intangível
sincronizados.
Para falar sobre a Inclusão Digital (ID) na sociedade contemporânea, é preciso
compreender a questão da inclusão social, na formação cidadã por meio do acesso e uso das
TICs. Para isto é necessário lançarmos olhares críticos sobre a inclusão digital, como uma
ferramenta de desenvolvimento social, informacional e tecnológico. “O meio digital pode ser
uma ferramenta poderosa para facilitar a inclusão, pois consegue um potencial incrível de
expansão do humano”. (PEREIRA, 2009, p.159).
O aprendizado e a disseminação do uso das Tecnologias da Informação e
Comunicação (TICs) podem diminuir a pobreza e o analfabetismo. Na perspectiva
do domínio da TIC pelo cidadão comum, é viável a geração de novas oportunidades,
fomento ás novas habilidades e à criatividade e, consequentemente, uma nova visão
social o exercício da cidadania. (LEMOS, 2007, p.16).
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Carvalho (2003) pontua que para alcançar o ensejo da inclusão digital ainda temos
desafios a serem superados diante a sociedade contemporânea como, por exemplo, o de
capacitar os cidadãos e prepará-los para se adequarem ao processo das tecnologias de
informação. Segundo o autor considera-se desafiador pelo fato de haver grandes
investimentos tecnológicos por parte do governo para a sociedade, mas infelizmente não há
grandes investimentos para treinamentos de capacitação ao uso das TICs.
Conseguir a inclusão digital não é um objetivo fácil de ser alcançado. Não
basta o reconhecimento e o empenho (governamental, social, técnico e
econômico) para encontrar soluções que viabilizem a aquisição de
equipamentos e serviços à população. Com determinação política e recursos
financeiros é possível disponibilizar equipamentos e serviços à população em
curto espaço de tempo, porém, tais facilidades são inúteis se a população não
puder fazer uso delas, por falta de treinamento, habilidade ou incapacidade
física. (CARVALHO, 2003, p. 78).
O mundo vivencia este processo de industrialização tecnológica, chamado de Terceira
Revolução Industrial, que movimentou a economia mundial havendo consequência direta na
cultura das pessoas, no modo de agir, pensar e de se comunicar. Diante deste avanço
tecnológico, a sociedade passou a ser dividida entre aqueles que possuem acesso à internet e
uma grande maioria que não possui, desenvolvendo assim o fenômeno da exclusão digital.
Lévy (2000) discorre sobre este processo de mudança da sociedade campestre à sociedade da
era digital, acentuando o crescimento exponencial de tecnologias provocado pela Revolução
Industrial:
Ainda em meados do século XX a grande maioria dos seres humanos era
rural e entre estes rurais quase todos trabalhavam a terra e criavam animais.
A revolução industrial que começou a transformar este estado de coisas surge
hoje como início de um processo que conduz à revolução informacional
contemporânea. (LÉVY, 2000, p. 9).
Mas com o passar dos tempos, grande número de pessoas não eram incluídas neste
processo do desenvolvimento industrial. O fator econômico impediu que grande número de
pessoas participassem neste processo de desenvolvimento industrial, mantendo-se excluídas
da Sociedade em Rede.
Uma característica central da sociedade em rede é a transformação da área da
comunicação incluindo media. A comunicação constitui o espaço público, ou seja, o
espaço cognitivo em que as mentes das pessoas recebem informação e formam os
seus pontos de vista através do processamento de sinais da sociedade no seu conjunto.
(CASTTELS, 2005, p.23).
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Devido a este processo de transformação social e tecnológica, a exclusão social e
digital tornou-se predominantes, além da questão da pobreza e do analfabetismo. O Brasil,
além de adentrar à Sociedade da Informação tardiamente, não possuía recursos econômicos e
sociais para suprir todos os problemas do país.
A grande questão reside em como lidar com a exclusão digital existente no
país, como o Brasil, que conta com altos índices de pobreza e analfabetismo.
É certo que a pobreza e o analfabetismo se constituem como problemas que
precisam ser sanados com urgência. Mesmo assim, não há como pensar a
exclusão digital em segundo plano, visto que o desenvolvimento das
tecnologias se dá cada vez mais rapidamente e o abismo existente entre
incluídos e excluídos tende a aumentar. (LEMOS, 2007, p.16).
O objetivo da ID é possibilitar o acesso às TICs, visando a igualdade e a cidadania
como um todo, promovendo o livre acesso à informação e a utilização das tecnologias,
reintegrando os direitos cidadãos, formando mentes reflexivas com olhares sobre o avanço
tecnológico e seu impacto social. Entretanto, sabemos que apenas a utilização das tecnologias
e o acesso aos meios digitais não são o bastante, sendo necessária uma formação consciente e
crítica de como utilizar a internet com responsabilidade.
E como acesso não significa apenas conexão física e acesso ao hardware, ou
melhor, não é o acesso à tecnologia que promoverá a inclusão, mais sim a
forma como essa tecnologia vai entender as necessidades da sociedade e
comunidades locais, com uma apropriação crítica, pois o papel mais
importante do processo de inclusão digital deve ser a sua utilidade social. É
preciso pensar na contribuição para um desenvolvimento contínuo e
sustentável, com a melhoria da qualidade do padrão de vida da população,
através da redução das desigualdades sociais e econômicas.
(SCHWARZELMÜLLER, 2005, p. 2).
É preciso que o indivíduo amadureça sua visão de modo que veja a importância da ID,
relacionada à questão do “saber” utilizar corretamente as ferramentas da internet e buscar
informações relevantes, de modo eficaz.
Atualmente, em nosso país, a ID é considerada um programa somente relacionado à
informática para as práticas profissionalizantes, entretanto os propósitos do programa de
Inclusão Digital vão mais além do que a perspectiva profissional.
A inclusão digital que vem sendo praticada, hoje no país, tem abordado, em sua
maioria, apenas a necessidade de fazer com que o cidadão aprenda a usar as
tecnologias com o objetivo de inseri-lo no mercado de trabalho.
(SCHWARZELMÜLLER, 2005, p. 2).
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Segundo Borges (2005), em 1990 começam a emergir vários movimentos sociais pela
inclusão digital, sendo que na América Latina os movimentos eram mais intensos. No entanto
os governos somente tomaram conhecimento da importância desta causa no ano de 2002,
quando a Organização das Nações Unidas (ONU), juntamente com o Programa das Nações
Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), apontou que o desenvolvimento social e humano
não teria sentido sem a disseminação da tecnologia.
Hoje no Brasil, programas de inclusão digital encontram-se mais concretos, por haver
maior preocupação com o desenvolvimento cidadão e econômico da sociedade, relacionando
a cidadania com o acesso à informação.
A Inclusão Digital influenciou a Sociedade da Informação nos aspectos sociais,
políticos e econômicos, propondo uma linha de pensamento a respeito da valorização do ser
humano acompanhada pelo desenvolvimento tecnológico. Concretizando projetos para a
promoção social, tornando-se uma ferramenta contra a exclusão social e digital.
[...] A exclusão digital impede que se reduza a exclusão social, uma vez que as
principais atividades econômicas, governamentais e boa parte da produção cultural
da sociedade vão migrando para a rede, sendo praticadas e divulgadas por meio da
comunicação informacional. Estar fora da rede é ficar fora dos principais fluxos da
informação. Desconhecer seus procedimentos básicos é amargar a nova ignorância.
(SILVEIRA, 2001, p. 18).
Diante deste cenário da Sociedade da Informação e das tecnologias, o homem se
desenvolveu e desenvolve, novos costumes e conhecimentos surgem abrindo horizontes para
o saber, as tecnologias causam grandes mudanças em nossa sociedade, modificando o
indivíduo, construindo-o para as TICs.
A TIC é particularmente importante para a inclusão social das pessoas
marginalizadas por outras razões. Por exemplo, as pessoas portadoras de
deficiências físicas podem fazer o uso especialmente satisfatório na TIC para ajudar
a superar problemas causados pela falta de mobilidade, pelas limitações físicas ou
pela discriminação social. (WARSCHAUER, 2006, p. 53).
Mas não será possível desenvolver as tecnologias sem o aprimoramento humano e
social, democratizando o acesso à informação e reconhecendo os direitos dos cidadãos,
através dos equipamentos eletrônicos. Uma sociedade justa é aquela unida pelo conhecimento
e desenvolvida nos parâmetros tecnológicos e sociais.
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Constitui-se, dessa forma, em pré-requisito indispensável para a inclusão e
participação na vida pública. É inseparável da noção de igualdade sociopolítica,
presente de forma restrita ou ampliada em todas as sociedades. De qualquer maneira,
e em suas múltiplas dimensões, a cidadania é um meio de proteção e uma condição
para o exercício dos direitos e, também, deveres. (BORGES, 2005, p.35).
Portanto, a ID relaciona-se com a inclusão social, exigindo direitos e deveres dos
membros da sociedade (cidadãos e governantes). Sendo objetivo principal da Inclusão Digital
formar cidadãos críticos e preparados para lidar com as novas formas de comunicação,
disseminação e absorção de informações. A prática da cidadania, assim como sua formação,
se dá pelo acesso e uso de informações, trazendo reflexos nos âmbitos políticos, civis e
sociais, permitindo a diminuição da exclusão social.
Assim um esforço de inclusão digital precisa levar em conta o acesso a informações
relevantes e que despertem no sujeito de aprendizagem o interesse e a percepção de
que ali reside uma possibilidade de mudança de seu quadro sócio-econômico de
exclusão (BORGES, 2005, p.54).
Borges (2005), também destaca que o acesso à internet pode ser considerado condição
importante para a inclusão social na sociedade da informação, promovendo uma cidadania
igualitária e justa para todos, através do uso responsável e crítico de equipamentos
tecnológicos permitindo o livre acesso à informação.
Diante destes novos parâmetros sociais e tecnológicos, é necessário um profissional
capacitado para atender as demandas sociais, com uma visão humanística ligada ao contexto
social em que ele está inserido, para promover mudanças significativas na Sociedade da
Informação promovendo acesso às TICs e aos conteúdos informacionais disponíveis nela.
Mariane Braz Brandão possui Bacharelado em Biblioteconomia e Ciências da Informação e da Documentação pela Universidade de São Paulo, atualmente faz o curso de graduação em Pedagogia pela mesma instituição de ensino. Mariane trabalha como bibliotecária e educadora social na Fraternidade Solidária São Francisco de Assis FRASOL-RP. Com trabalhos socioeducativos voltados para a reconstrução não somente da leitura mais também da dignidade e cidadania, incorporando sobre crianças e adolescentes os valores sociais e humanos necessários para conviver em paz e harmonia na sociedade.
BRANDÃO, Mariane Braz. Contribuições e Desafios na Sociedade da Informação para
os profissionais que atuam em bibliotecas: estudo de caso da Biblioteca Maria Antonieta
Franco de Siqueira. 2014. 93f. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado) - Curso de
Ciências da Informação e da Documentação, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto,
2014.
Este estudo discorreu sobre os benefícios e desafios estabelecidos na Sociedade da
Informação, sobretudo no trabalho dos profissionais que atuam em bibliotecas enquanto
mediadores, contribuindo na formação dos usuários para a inclusão social. O acesso à
informação e aos meios tecnológicos tornou-se fator preponderante para o desenvolvimento
social, ao lidar com paradigmas da inclusão digital e do direito a informação, imprescindíveis
para o exercício da cidadania; para tal, ressalta-se a necessidade de formação dos indivíduos
para o uso consciente desses recursos, que se dá por meio do trabalho de diversos
profissionais, incluindo aqueles que atuam em bibliotecas. Esta pesquisa de caráter qualitativo
foi realizada por meio de revisão bibliográfica, incluindo o estudo de caso da Biblioteca Maria
Antonieta Franco de Siqueira, situada na Organização Fraternidade Solidária São Francisco
de Assis, na cidade de Ribeirão Preto-SP, com análise de algumas planilhas produzidas ao
longo dos anos de 2013 e 2014, em que foram registradas atividades socioeducativas
desenvolvidas na unidade com os temas: Formação para a vida em sociedade, Competência
Informacional, Inclusão Digital e Governo Eletrônico. A elaboração e execução das planilhas
são de responsabilidade do assistente de biblioteca, sob orientação da Coordenadora
Pedagógica da Instituição. Apontou-se ampliação na atuação dos profissionais nas unidades
de informação, para além das funções de gestão do acervo, destacando seu papel social, como
agente de transformação do contexto em que atua, por meio da formação dos usuários.
Concluiu-se que este perfil profissional exige continua formação, além de habilidades como
criatividade, manejo das Tecnologias de Informação e Comunicação, competência
informacional, dentre outras. Observou-se insuficiente conscientização por parte dos
profissionais, acerca da necessidade de adaptarem-se às mudanças ocorridas, e pouca
alteração em sua atuação. Entretanto, o estudo da Biblioteca Maria Antonieta demonstrou a
ocorrência desta ampliação do papel dos profissionais em alguns espaços, onde, por meio de
serviços diferenciados, estão contribuindo para a formação de um cidadão crítico. Para
compreender o papel desses profissionais, diante dos desafios da Sociedade da Informação, é
necessário maior estudo sobre sua atuação em bibliotecas especializadas na área social, para
ampliação do escopo de conhecimentos sobre o tema tratado.
Palavras-chave: Sociedade da Informação. Bibliotecas. Cidadania. Mediação. Competência
Informacional.
4.4. BIBLIOTECA MARIA ANTONIETA FRANCO DE SIQUEIRA: ESPECIALIZADA
EM LITERATURA INFANTOJUVENIL
A Biblioteca Maria Antonieta Franco de Siqueira é definida como biblioteca
especializada em literatura infantojuvenil, cujo trabalho é voltado ao Serviço de Convivência
e Fortalecimento de Vínculos. “Existem três princípios teóricos quanto ao conceito de
biblioteca especializada: os que tratam do acervo que a biblioteca possui e disponibiliza; os
que falam do tipo de usuário que a frequenta; os que colocam o tipo de acervo associado ao
tipo de usuário” (SALASÁRIO, 2000, p.105). Serão abordados três aspectos dessa unidade de
informação: seu acervo, os usuários que atende e os serviços prestados.
De acordo com relatório do Personal Home Library (PHL), software utilizado pela
unidade de informação para a gestão do acervo e outros serviços, a Biblioteca Maria possui
2977 livros catalogados, sendo que desse total, 2512 são livros infantis e infantojuvenis. A
configuração de seu acervo deve-se ao fato de que seu público alvo constitui-se de crianças e
adolescentes matriculados na FRASOL. Além desses, os materiais também ficam à disposição
dos funcionários da instituição.
Além de livros, o acervo conta com revistas, jornais, CDs, DVDs, jogos, fantoches e
outros materiais lúdicos para brincadeiras e dramatizações, além de um computador
disponibilizado para os usuários, o qual também é utilizado em algumas atividades
socioeducativas.
Como proposto por Miranda (2007), os serviços prestados por bibliotecas
especializadas relacionam-se aos objetivos da instituição à qual pertencem e visam atender as
necessidades de um determinado grupo de usuários, por meio da mediação de informações de
modo seletivo e eficaz. Na Biblioteca Maria Antonieta os serviços englobam: aquisição e
desbastamento de materiais do acervo; catalogação das obras; seleção e exposição de livros
voltados aos valores mensais citados anteriormente; desenvolvimento de atividades
socioeducativas com as crianças e adolescentes; organização do espaço de forma a torná-lo
agradável e propício ao estimulo da leitura e à socialização.
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A biblioteca atende as crianças e adolescentes matriculadas de segunda à sexta-feira,
das 08h00min às 10h50min e das 14h00min às 16h20min, desenvolvendo as atividades
socioeducativas. A cada dia da semana são atendidos os usuários de um dos ciclos
mencionados anteriormente; na quinta-feira a biblioteca não realiza estes atendimentos, pois o
dia é reservado para as atividades de organização e processamento técnico do acervo,
programação semanal das atividades.
4.4.1. Atuação do assistente na Biblioteca Maria Antonieta Franco de Siqueira
O trabalho dessa unidade de informação vai além de atender a necessidade
informacional que os usuários exprimem, mas pretende construir neles a competência para a
busca, análise e uso das informações para garantirem seus direitos como cidadãos.
Nesse ambiente a atuação do assistente de biblioteca é, principalmente, elaborar
serviços (na forma de atividades socioeducativas) a partir dos materiais e conteúdos
disponíveis no acervo. O profissional deve assumir papel de transformador da realidade e da
consciência dos usuários, formando-os para assumir posição reflexiva e libertária, conhecendo
seus direitos e atuando na sociedade de maneira cidadã (CABRAL, 1992).
Nesse trabalho de formação de competência e consciência crítica, a necessidade
informacional nem sempre já é conhecida pelo usuário, mas é fomentada pelo profissional,
que entende que o suprimento dessa necessidade permite que o sujeito se constitua na
sociedade e usufrua dos direitos que lhe são assegurados por lei, e neste caso, destacam-se
aqueles reservados à criança e ao adolescente.
Trata-se de um serviço que busca mobilizar as informações de forma a atender as
necessidades provenientes da realidade dos usuários. É o que Le Coadic (1996), nomeou de
“necessidade derivada”, ou seja, a busca de informações visa o atendimento de determinada
demanda. Esta se desdobra em dois enfoques; a “necessidade de informação em função do
conhecimento” e a “necessidade de informação em função da ação”: a primeira se caracteriza
pela busca em função do desejo de adquirir mais conhecimento; a segunda está ligada a algo
mais prático e objetivo, relacionado à vida pessoal ou profissional do sujeito.
O trabalho da biblioteca tem como objetivo atender ambas as formas de necessidade;
aumentar a bagagem de conhecimento das crianças, incentivando o prazer pela leitura e
aprendizagem; além disso, visa disponibilizar informações que auxiliem os usuários em seu
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cotidiano, por exemplo, conteúdos relacionados à saúde, bem estar, higiene, valores, dentre
outros.
As crianças e adolescentes que frequentam esta unidade de informação apresentam
dificuldades na leitura e interpretação de textos, demandando da unidade e dos profissionais
dinâmicas e atividades lúdicas (dramatização, exibição de filmes, rodas de conversa, etc.) que
estimulem a criatividade e possam suprir essa carência. E outras atividades que estimulem a
reflexão sobre importantes temas para sua formação social.
Dessa forma, o trabalho nessa biblioteca está intimamente ligado ao contexto social
dos usuários (que apresenta casos de vulnerabilidade social, perda de vínculo com a família e
a comunidade ou e violação de direitos). E o papel da biblioteca, e consequentemente, do
profissional que atua nela, é conhecer tal realidade e propor intervenções através de atividades
na biblioteca que se comprometam a dar ferramentas para que atuem em sua realidade social,
levando em consideração também, os anseios e habilidades das crianças, de movo a incentivá-
las a participar e a aprender:
No trabalho socioeducativo o interesse das crianças, adolescentes e jovens é
o guia para o planejamento das atividades e o agente educador usa os seus
saberes e autoridade para criar situações que garantam aos educandos
expressar interesses e sentimentos por meio de diversas linguagens, fazendo
das questões comunitárias temas para a aprendizagem (SÃO PAULO, 2007a,
p.11).
Conclui-se que, o profissional que trabalha na biblioteca Maria Antonietta é também
um educador social, atuando em uma biblioteca especializada possui peculiaridades que o
diferencia daqueles que trabalham em outros tipos de unidades de informação
(TARAPANOFF; SANTIAGO; CORRÊA, 1988).
O profissional que atua nessa unidade de informação atende um grupo definido de
crianças e adolescentes, com os quais convive diariamente; longe de assumir um perfil neutro,
este profissional não é apenas um provedor de informação, mas seleciona quais informações
devem ser disponibilizadas e cria condições de mediação, mobilizando todo o material do
acervo para criar oportunidades de formação socioeducativa e incentivo à leitura.
Tais condições demonstram como, na Sociedade da Informação, as bibliotecas
ganham novas configurações, com serviços diferenciados; o que exige formação mais ampla e
complexa dos profissionais que atuam nesses ambientes, lidando com as novas possibilidades
e desafios propostos pela revolução tecnológica.
Com o objetivo de embasar o estudo da biblioteca Maria Antonieta, será feita a
seguir a exposição e discussão de algumas planilhas de atividades desenvolvidas pelo
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responsável na unidade de informação. A escolha das planilhas a serem apresentadas foi
embasada no objetivo de demonstrar ações no sentido de educar os usuários para lidar com
informação, seja no meio tecnológico ou não, além de formá-los para a vida em sociedade,
através dos recursos disponíveis na biblioteca. Inicialmente será apresentada a estrutura das
planilhas e a descrição dos campos presentes nelas; em seguida descritos os temas trabalhados
e posteriormente serão apresentadas as planilhas com considerações relativas a cada atividade.